Entre pedras, árvores de reflorestamento, poeira de britas, está localizado o lago do Complexo do Alemão que se tornou um dos principais espaços de lazer para moradores. Para muitos uma novidade, para outros uma resposta da natureza, afinal o nível de exploração daquele local cresce descontroladamente. Movimentos ambientais organizados já alertavam a população e pressionavam o poder público sobre as conseqüências e possibilidades existentes naquele local.
É quase inacreditável o que se vê do alto da Serra da Misericórdia, realmente pode ser comparado a um oásis, pois no “meio do nada” surgiu um imenso lago após escavações realizadas pela mineradora Lafarge que, há 17 anos, vem trabalhando na exploração de minério naquelas terras.
Chamada de “Serra Chorona”, para movimentos ambientais que atuam na região, toda aquela água é resultado de um lençol freático , ou seja, tudo está ligado a um impacto ambiental que muitos não mensuram, mas que pode ser amenizado com aplicação de políticas que, principalmente, pensem no desenvolvimento local de maneira abrangente, envolvendo a população em todos os eixos.
A Luta é Antiga
Grupos organizados pela sociedade civil vêm trabalhando em função da preservação, recuperação ambiental e oportunidades para aquela área há anos. Uma das principais representações desta luta é a ONG Verdejar – Proteção Ambiental e Humanismo que "desde sua criação, em 1997, tem como principal proposta a criação de um Parque Ecológico que contemple todo o maciço da Serra da Misericórdia, tanto pela importância de seus serviços ambientais para toda Zona Norte, como também por abrigar a última área verde da Zona da Leopoldina”, comenta o coordenador da ONG, Luiz Poeta.
Já nesta época a proposta do Verdejar trazia em seu escopo, além da criação de um parque ecológico da Serra da Misericórdia, a construção de diversos equipamentos públicos, tais como: centros culturais, complexos esportivos e de lazer, ciclovias, universidade comunitária e outros que deveriam ser integrados por VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) com utilização de energias renováveis como a eólica, na gigantesca área de exploração mineral que abrange os bairros de Inhaúma, Engenho da Rainha e Olaria onde ainda funcionam três mineradoras, entre elas a Lafarge.
Tudo isso foi planejado para contemplar, exatamente, o local onde hoje está o lago. O esforço hoje deve ser para manter coletivamente o que a natureza nos oferece e quem sabe assim forçar as empresas mineradoras a pararem com suas explorações que, além de tudo, prejudicam o ar que os moradores respiram.
Em parceria com o geólogo Cláudio Martins Profº da Universidade Federal Fluminense (UFF) foi elaborado o Diagnóstico Preliminar Ambiental - DAP da Serra da Misericórdia que, entre outras questões, aponta para a necessidade da criação de um Plano de Desativação das mineradoras que operam na Serra, consideradas altamente poluidoras da bacia aérea – 3, diagnosticada como a mais poluída da cidade do Rio de Janeiro.
Oportunidade nas mãos
“Aqui já existia um lago, mas era bem menor que este, formado por água das chuvas, isto não é tão novo assim”, comenta Luiz Poeta. O que parece novidade, na realidade já vinha sendo alertado.
Para o Verdejar o momento é para avaliar os impactos e, paralelamente, dialogar com o poder público para, juntos, pensarem em soluções que atendam as principais necessidades do local. Não é difícil pensar em iniciativas que vão desde a valorização da área como potencial de lazer a possibilidades de projetos de Ecoturismo, ou aproveitamento dos ativos socioambientais, medidas de controle e projetos de geração de trabalho e renda com potencial de contribuir significativamente para o desenvolvimento sustentável da região.
O Verdejar vem participando, juntamente com o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia, de uma série de reuniões e encontros promovidos pelo Trabalho Social do PAC visando contribuir para formulação e implementação de ações e projetos de educação e gestão ambiental nas áreas verdes e comunidades do Complexo do Alemão. Porém, segundo afirma o diretor do Verdejar, Edson Gomes, “mesmo depois de formulados alguns planos, não houve qualquer sinalização de que estes serão implementados e se realmente terá parceria com as instituições da sociedade civil organizada local que contribuíram para sua formulação”.
“Agora lemos nos jornais e programas da televisão que será realizada na próxima terça-feira (09/03/10) uma reunião entre a Secretaria Estadual do Ambiente e a EMOP para discutir a implementação do Parque da Serra da Misericórdia e medidas de controle e gestão do lago azul e até agora não houve abertura para participação da sociedade civil organizada que atua há mais de dez anos na região”, conclui Edson.
O propósito imediato está centralizado na mobilização para uma parceria entre, governo (principalmente agora com a atuação do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC), empresa Lafarge e Sociedade Civil para alcançar os objetivos já pensados e apresentados aos órgãos competentes, mas que seja, de fato, garantida a participação do povo.
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