De acordo com o governador a culpa das mortes é da irresponsável ocupação desordenada de áreas irregulares das encostas. Por isso, diz ele: “eu quero construir muros nas favelas, para impedir sua expansão. Veja onde estão as mortes. São os mais pobres que morrem, por isso, temos que ser cada vez mais duros na disciplina da ocupação do solo urbano, com aparato da polícia. Já falei com os prefeitos: contem com o Governo do Estado!" (entrevista Globonews 07/4/2010 por volta das 12h30).
Tal declaração seria vergonhosa se não fosse fascista. O descaso, a omissão o autoritarismo do Governador Sérgio Cabral e também do prefeito Eduardo Paes em relação à população pobre que mora em favelas é total. O descaso torna-se ainda mais grave quando chuvas torrenciais com essas, que acabaram com casas, mobiliários e o pior com muitas vidas, continuam a vitimar a população pobre da favela. Uma tragédia anunciada, mas o que o governador faz é culpar a população pobre que vive nas áreas de risco. Em nota de esclarecimento o Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói, diz: “Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade”
Pac ou Pacote?
Na sexta feira dia 09 de abril aproximadamente 200 moradores do Complexo do Alemão fizeram uma manifestação pacífica na estrada do Itararé em frente à favela da Grota. O objetivo foi mostrar que as obras do PAC são uma ilusão “é para inglês ver” reclama dona Albertina que teve sua casa inundada pelas chuvas. “A minha casa nunca encheu, agora depois dessas obras de fachada (referindo-se ao PAC) ela vive enchendo”, emenda.
Muitos moradores perderam suas casas e estão desabrigados. As favelas mais atingidas foram o Morro da Esperança (Pedra do Sapo), Canitar e Parque Everest onde a situação é de desespero e desolação. Alguns moradores estão acampados na Vila Olímpica, outros a procura de um lugar para dormir e todos aguardando uma atitude por parte do poder público.
O Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia (CDLSM) já havia chamado atenção para os problemas referentes a moradias em locais de risco de desabamento. “No dia 12 de novembro de 2009 demos entrada no ofício de nº 1/2009 protocolado junto à Secretaria Geral da Presidência do Brasil, a Presidência da Caixa Econômica, ao Governo do Estado e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com cópia para os Ministérios público Estadual e Federal, mas até agora não recebemos resposta, enfatiza Edson Gomes.
Onde estão as autoridades?
Renato Tutsis
De acordo com os moradores do Parque Everest os manda-chuva do PAC só prometem. “Eles já vieram aqui um monte de vezes, mas até agora nada. Eles querem que aconteçam mais uma desgraça” diz Laila Marcos. Somente agora o Parque Everest foi incluído como uma das 13 favelas pertencentes ao Complexo do Alemão e com a promessa de que esta favela seria incluída nas obras do PAC. “Já falamos com todo mundo diversas vezes. O presidente da EMOP Sr. Ícaro nos garantiu que até fevereiro seríamos removidos para o aluguel social, mas até agora só promessa”.
Os responsáveis do estado nas obras do PAC no Alemão (Canteiro Social), segundo moradores, pediram calma reafirmando que a situação seria resolvida. “Calma? Eles devem estar de brincadeira. Acho que as autoridades - o governador, o prefeito e esses oportunistas deveriam dormir aqui uma noite para sentir na pele o que é morar num lugar desabando, completamente desumano. Até os animais tem onde morar,” desabafa Leila Marcos.
De acordo com Regina Brito O Vice-governador Luiz Pezão afirmou que resolveria o problema da população do Parque Everest. “Ele nos recebeu em seu gabinete e falou para ficarmos tranqüilo, pois até 08 de abril a situação do povo do Parque Everest seria resolvida. Hoje é dia 10”, lembrou Regina.
2 comentários:
Lições da tragédia
Politização e sensacionalismo contaminaram as análises sobre os desastres provocados pelas chuvas no Sudeste.
Caso São Paulo não fosse governado por José Serra, haveria um escândalo perante o despreparo material da Defesa Civil e dos Corpos de Bombeiros no atendimento imediato às vítimas. Não se trata de incompetência das corporações, mas de negligência administrativa: as cidades ribeirinhas do Estado estavam e continuam entregues às próprias sortes. Também seria a última vez que esses governantes descarados escapariam de fornecer satisfações sobre as fortunas incalculáveis empenhadas nas obras das marginais paulistanas.
As autoridades fluminenses são historicamente omissas na questão das moradias irregulares. Elas preferem assistir ao martírio dos desvalidos a agir com o rigor da legalidade, politicamente desgastante. É óbvio que as famílias alojadas em situação periclitante precisam ser removidas. Como sugerir pretexto “social” para manter seres humanos pendurados em precipícios, à mercê de temporais?
A sociedade precisa reagir à hipocrisia surpresa dos governantes. Ninguém esperava que aqueles casebres de papelão, montados nas enlameadas encostas de morros íngremes, fossem obedecer à lei rudimentar da gravidade? O que as oligarquias conservadoras que dominam São Paulo há quase três décadas fizeram para prevenir o alagamento das ruas da capital, salvo reclamar da atmosfera?
Não se iludam: no ano que vem, as chuvas voltarão. E as verdadeiras responsabilidades passarão incólumes, novamente, até nova mortandade.
Com certeza todos nós temos culpa, pois, da criancinha que joga o papel de bala no chão, do pai que joga sofá nos valões..até a classe política que acaba não prestando atenção e "permite" essas construções.
No momento, acho a postura de Cabral correta e com certeza ele tomará medidas para que daqui para frente,não ocorra mais esse tipo de situação.
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