Em pouco menos de uma semana dois incêndios na Serra da Misericórdia no bairro do Engenho da Rainha Zona Norte do Rio de Janeiro assustam moradores e ambientalistas. De acordo com um morador, que não quis se identificar, o incêndio do dia 13 de março foi provocado por uma manifestação religiosa de origem africana comum no local. O grupo Socioambiental Verdejar que atua na Serra da Misericórdia desde 1997 chamou imediatamente os bombeiros que conseguiram conter o avanço do fogo.
Os incêndios, segundo o coordenador de agroecologia do Verdejar Luis Carlos Marins (conhecido como Poeta) costumam acontecer principalmente pelos motivos: culto de origem africana que utilizam velas, culto de evangélicos que põem fogo na mata para abrir caminho para chegar ao monte e balões. “Infelizmente algumas pessoas ainda não têm consciência de preservação ambiental, daí o problema das queimadas”, enfatizou.
Já o coordenador executivo Edson Gomes não descarta a possibilidade de o incêndio ter sido causado por “oportunistas”, posto que o grupo Verdejar luta não somente pela preservação ambiental da Serra da Misericórdia, mas, também, por um desenvolvimento socioambiental sustentável e isso acaba por contrariar interesses de mineradoras e outras indústrias que exploram a região.
Zolmir Figueiredo e Erik Vidal dizem que o Sistema Agro-florestal (SAF) plantado e implementado pelo Verdejar auxiliou a conter o fogo. “Na implantação do SAF são feitas capinas em aceiro no entorno do sistema justamente para protegê-lo contra as queimadas” explicaram.
Participação Social (labuta diária)
O Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia junto aos ambientalistas do Verdejar discutem a necessidade de gestão do maciço da Serra da Misericórdia para tentar diminuir as degradações ambientais ocorridas pelos incêndios, exploração das mineradoras e os impactos ambientais oriundos dessa exploração. “É necessário um plano de gestão urgente para coibir ações de queimadas, degradação ambiental e desmatamentos da última área verde da Zona da Leopoldina”, adverte Luiz Carlos.
Em novembro de 2000 foi instituído o decreto de nº 19.144 que cria a Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana – APARU da Serra da Misericórdia, área de aproximadamente 3.695 hectares. Isso é importante, pois a discussão do momento na imprensa tem sido em torno do “Piscinão do Alemão” (apelido de mau gosto dado ao grande Lago Azul) o que acaba por esconder a necessidade de abertura do debate com a sociedade civil para criação do Parque Ecológico.
Mesmo após o decreto de proteção ambiental e de recuperação urbana dessas áreas a mineradora Lafarge explora brita na Serra da Misericórdia. “Há muito tempo lutamos pela desativação das pedreiras que exploram a Serra da Misericórdia. Elas poluem demasiadamente o ar das comunidades situadas no entorno da Serra causando graves problemas respiratórios, alergias, oneram o setor de saúde pública, além de causar diversas rachaduras nas residências do entorno colocando a população em uma situação de risco durante as chuvas torrenciais” enfatiza Luiz Carlos.
A comunidade tem direitos
De acordo com o grupo Verdejar, as explorações alcançaram um lençol freático que deu origem a Lagoa Azul do Complexo do Alemão. Esta área já era usada pela população local como área de lazer, com o aparecimento do lago a pratica se intensificou, uma vez que há carência de equipamentos e áreas públicas voltados para recreação e preservação ambiental que proporcionem bem estar.
O Parque Ecológico está desenhado na arquitetura das obras do PAC e que, por interesses escusos, ainda não foi discutido com a sociedade civil um projeto urbanístico do referido Parque da Serra da Misericórdia acompanhado da política ambiental a ser implementada.
No próximo dia 21 de março às 10h, um dia antes do dia mundial da água, haverá um abraço simbólico ao Lago Azul para chamar a atenção do poder público quanto a necessidade de criação do Parque Ecológico na Serra da Misericórdia. Estima-se que a mobilização vai levar mais de 500 pessoas ao local. “Este evento é uma tentativa de abrir um canal de diálogo com as instâncias de Governo e com a Empresa de Obras Públicas (EMOP) para a criação do tão sonhado Parque Ecológico na Serra da Misericórdia. A sociedade civil não pode ficar de fora desse diálogo. É algo de uma grandeza e importância incontestável não somente para Complexo do Alemão, mas também para toda Zona Norte da Cidade”, decretou Edson Gomes.
* Ricardo é jornalista e coordenador do Movimento de Integração Social Éfeta.
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