terça-feira, março 23, 2010

Crônica

por David Amen*

Foto: Maycom Brum


Meu sonho é ver o Lago...




Sem tantas opções, fui eu ao encontro do Lago, ontem, 21 de março. Afinal, muitos me falaram, dias antes, de um encontro sugerido para que moradores das comunidades dessem um abraço ao lago. Meio confuso, sem conseguir imaginar se seria mesmo possível abraçarmos o lago, fui para satisfazer minha vontade de romper as dúvidas que tanto me afloravam.

O domingo cinzento quase me fez retornar na decisão de participar deste tal abraço, mas algo me encorajava e me fazia repensar na possível importância de estar lá e cooperar com uma ação que, quando soube, me pareceu pertinente. Sim! Chegaram a comentar e andou sendo noticiado na mídia algo sobre movimentos sociais que preservam aquela região e que este abraço seria uma forma de marcarem presença e fortalecer as reinvidicações pela oficialização de uma área de lazer ali. Até então me parecia um ato importante.


Alcançando tal compreensão, não resisti quando um grupo de pessoas marchava rumo ao local mais comentado, nas últimas semanas, pela favela. Bem sereno, me infiltrei entre famílias afáveis, crianças sorridentes, jornalistas e, como quem não quer nada, os acompanhei até o destino tão aguardado. Mesmo com a chuva fina na mata fechada no topo do morro, não amendrotei, já havia feito amizades e conversávamos sobre histórias complexas daquela área do Complexo. Não era possível retornar, até pelo fato de estar começando ambicionar, segundo a segundo, participar daquilo.


Lembrei de quando me divertia, quando criança, nas brincadeiras de “caça ao tesouro”, sem sombra de dúvidas foi exatamente como me senti. O lago passou ser nosso tesouro, meu pelo menos. Foi quando, derrepente, de um ponto estratégico, já podíamos observar a grande pérola que a natureza acabou nos oferecendo para, além de tudo, refletimos sobre nossos valores. Imagem inacreditável e inesquecível. Interiormente indaguei: “É verdade, é lindo!”


Quando nos aproximamos, chegamos lá, o brilho nos olhos denunciava minha satisfação. O sorriso estampado era impossível não expor, tamanha felicidade me dominava naquele momento. Pessoas se divertindo, atuando na coleta do lixo e na limpeza do lago, pude perceber que é possível a comunidade exercer sua cidadania em prol da melhoria da qualidade de vida. “Sim é possível!”.


Simplesmente feliz foi este domingo, festa com muita música boa, ações sociais que me colocaram em fascínio com o poder de mobilização dos grupos proponentes, Verdejar, Éfeta e Raízes em Movimento e em êxtase quando percebi o valor real que nossa Serra da Misericórdia tem a nos proporcionar. Por isso abracei com vontade o lago e a proposta.


Não dormi esta noite pensando no grande dia que tive, mas, principalmente no sonho de florescer uma esperança na permanência do lago, para que sejam eternos dias como estes que me fazem perder o sono.


*David é jornalista e coordenador de Comunicação do Raízes em Movimento.

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