segunda-feira, agosto 24, 2009

Professor busca oferecer educação e cultura no Complexo do Alemão



A arte rompe barreiras que ultrapassam a violência e o descaso. A coluna “Bate-papo” fala dos jovens que recebem a orientação do professor Alan Brum Pinheiro, diretor da ONG Raízes em Movimento.



O Morro do Alemão é um daqueles lugares do Rio de onde frequentemente a gente ouve falar de histórias de violência. Uma história de que não se falou ainda é de profunda transformação da vida de crianças e jovens do lugar. Tudo começa porque alguém nascido ali acreditou que é possível um futuro melhor. Ele é Alan Brum Pinheiro. 

RJTV: Alan, frequentemente quando se fala em Complexo do Alemão, ou se refere à comunidade pobre ou à favela. A primeira ideia que vem é do problema, e não das soluções que vêm sendo encontradas. Você encontrou uma para ajudar os jovens de lá, que é por meio da cultura. Como funciona? 

Alan Brum: É muito difícil, num território daquele, onde há muita criminalização do território, você encontrar uma alternativa, uma forma de poder superar uma situação dessa e quebrar os obstáculos. Os jovens são seduzidos por simbologias, por formas de trabalho em que ele sinta prazer. E uma das formas de prazer à juventude, de uma forma geral, é a questão do acesso à cultura, a uma forma de poder se expressar. 


Muita gente não acredita em cultura como a plataforma para salvar e ajudar... 

Eu sei disso. Discordo, até porque quando você constrói seus valores, é por eles que você será guiado pelo resto da vida. Acredito muito que educação e cultura podem, sim, transformar e fazer com que esses jovens das favelas possam quebrar determinadas barreiras e poder alcançar um patamar melhor de qualidade de vida para sua família. Não digo em ser rico, porque a gente tem de buscar dignidade para toda a população. A partir daí, não vejo problema nenhum com as diferenças.

Seu trabalho no Complexo do Alemão consiste em quê? 

Eu trabalhei durante dois anos dando aula no Complexo do Alemão em algumas associações de moradores e conheci muitas pessoas querendo transformar aquela realidade, mas não se motivavam. Eu aproveitei o momento e fomos aglutinando tanto universitários, que comecei a mobilizar na comunidade, e os próprios alunos, que eram outros jovens em busca de novas possibilidades. A gente começou a se ajudar mutuamente e construindo as possibilidades de desenvolvimento do potencial de cada um.

Quais são?

Hoje eu desenvolvo esse trabalho no Raízes em Movimento. Sou o presidente da instituição. Até semana passada eu estava como gerente técnico e social do PAC no Complexo do Alemão, articulando todas as instituições locais e presidentes de associações para que a gente possa dialogar e construir um grande plano para o desenvolvimento daquela região. O Raízes em Movimento desenvolve um curso de fotografia e um curso de grafite. Tem um ciclo de leitura que quer estimular as crianças e adolescentes a ter acesso à leitura. Nós também desenvolvemos um trabalho de direitos humanos com o apoio da União Européia. Está iniciando agora, tem 15 dias. É um trabalho de cultura dos direitos, para que as pessoas possam desenvolver a cultura de ter acesso aos direitos e exercer os direitos. Tem de focar na potencialidade dos jovens, na potencialidade da pessoa. É nisso que a gente acredita. A gente não acredita que só devam ter alguns tipos de profissão para os favelados. Acho que tem de ter o acesso disponível, e a partir daí cada um define qual é a vida que quer ter. Mas é fundamental que eles tenham essa possibilidade de acesso.

Fonte: Coluna Bate-Papo  - 25 de Julho de 2009

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